Desmistificando o vinho, isto dá pano para mangas…

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É interessante como foi atribuído ao vinho o poder de tornar a cena mais sedutora, a suposta “desmistificação” do vinho não tiraria o poder dele, associado à sedução?
Dentre outras questões, esta seria uma boa medida de marketing? 


Sinceramente não acredito... O ritual associado ao vinho, vocês acham que realmente atrapalha? Saber aerá-lo, colocá-lo em temperatura correta, usar taças adequadas, isto torna o vinho inacessível?
Ao contrário, não seria exatamente um certo glamour, associado ao vinho, que o torna objeto de desejo de muitos?
Já repararam como um homem descreve uma cena “supostamente” romântica? Talvez os homens não tenham se dado conta, mas as mulheres irão entender muito bem do que eu estou falando, leiam um trecho do discurso…
O homem diz:
_ Poderíamos estar só nós dois… em um lugar aconchegante…abriríamos uma garrafa de vinho… (e por ai vai…)
Observem que ninguém fala em abrir uma cerveja, um saquê ou pedir uma caipirinha…rs…

Mas afinal, de qual mistificação estamos falando?


O vinho está associado à sedução, ao glamour,  à elegância, a momentos especiais, e nós sabemos que isto existe, faz parte da vida de todos, e é por si, uma meta a ser alcançada, tanto que se usa em cenas de conquista…
Não acho que tirar o vinho do rol da elegância, o tornará mais popular e acessível, como se, ser elegante na postura, no comportamento, fosse material inalcançável e custasse caro demais…
A elegância não tem nada a ver com grifes, ou roupas e assessórios caros, é claro que isto “teoricamente” ajuda, o que nem sempre é verdade, pois gente com dinheiro e deselegante tem em abundância..
A elegância tem muito mais a ver, com a postura pessoal, associada é claro, a uma pitadinha de bom gosto, e isto pode estar ao alcance de todos, o vinho não está, mas não por ser elegante demais, e muito mistificado por isto… Parem e pensem, o problema do vinho é o PREÇO e não a suposta mistificação, criada pelos especialistas em vinho, é claro que existe muita arrogância e empáfia neste universo do vinho, mas isto tem em todo lugar, em qualquer seguimento,  faz parte do ser humano que se conhece pouco e não controla impulsos precários,  e todos nós estamos sujeitos a isto, em algum momento de nossas vidas, mas este assunto, não tem nada a ver com o vinho, tem a ver com a pobreza interior do ser humano e não é papo para o Vinho e Delícias.
Assim, seguindo… Não será servindo vinho em copinho descartável de refrigerante, ou tomando o vinho a temperatura ambiente, que o vinho passará a fazer parte de vida de todos, como se alguém deixasse de apreciá-lo porque fica envergonhado de não ter uma taça em casa, na verdade, deixa de apreciá-lo, porque se não pode investir em uma taça (20,00 cada) que é algo quase perene, poderá ele investir em uma garrafa de vinho que ele vá apreciar, que custa NO MÍNIMO em torno de 40  reais, será aberta e acabará em minutos? Sei que pode parecer um exagero citar 40 reais como um valor alto, para algumas pessoas, mas é simples de perceber o significado do que falo, pense em quanto sua empresa paga aos funcionários de vale refeição por dia, se o vinho custa 40 reais, quanto custaria uma taça em um restaurante, que pudesse ser pago no vale refeição? Isso sim é popularizar o vinho, o restante são conversas vazias e incoerentes, devemos nos basear em fatos e não em palavras. Falta visão,  falta leitura, ou talvez falte um pouquinho de coerência e abunde desconhecimento da verdadeira condição, da parcela da sociedade, que realmente popularizaria o vinho, pessoas de bom nível cultural, voltados ao conhecimento e ao novo, trabalhadores e batalhadores que querem crescer na vida e ter acesso às coisas deliciosas, que a vida pode oferecer,  o vinho faz parte disto, se vai ser bebido numa cena romântica ou não, dentro ou fora da taça...rs... é o que menos importa, afinal curte-se o momento como ele se apresenta, da forma, como possa trazer mais prazer, mas a questão é que o vinho, precisa poder estar, na cena romântica e também na mesa do dia a dia, sempre que desejado.

O vinho é caro aqui no Brasil, por conta dos milhões de impostos associados a ele, e que crescem a cada dia,  estes são os fatos, e portanto, ao invés de querer mudar a apresentação que se faz do ritual de um vinho, que aliás é mais uma das coisas especiais, associadas a ele, pois cria um clima, tornando o momento mais rico, não devíamos lutar isto sim, pela redução de impostos sobre esta bebida, que deveria fazer parte da mesa de todos os interessados nela?
O que atrapalha é o preço do vinho e não o ritual, ou seja, “acordem pra realidade”, não temos que andar para trás, perder a elegância e nos transformarmos em homens e mulheres das cavernas, bebendo vinho na concha da  mão, para que o universo do vinho possa crescer, é um pouco demais não acham? Parece ATO de político para ganhar mais votos, entre as classes menos favorecidas.
Precisamos de preços justos e é só isso, depois, cada um que beba o vinho, como quiser e respeite as óbvias diferenças.

Em condições corriqueiras, eu prefiro manter o glamour, mas se você prefere beber no copinho de refrigerante, beba, eu não irei criticar, entenderei sua escolha, mas manterei meu decanter e minha taça sempre a minha mão….Smiley piscando e você entenderá a minha escolha também, sem críticas…
O mais importante é podermos ter poder de compra, de mais vinhos de qualidade, que possam fazer parte de nossa mesa, a mesa do arroz com feijão, do macarrão, da feijoada, do bife com batatas fritas, da pizza ou até do self-service, não a mesa da gastronomia sofisticada, mas a mesa de todos nós, é esta mesa que precisa poder receber o vinho, a mesa simples, mas que poderá também, ter o aconchego dos cuidados com os detalhes, da temperatura do vinho, da aeração, se esta for a opção escolhida, o que não poderá é receber um vinho de péssima qualidade, por ser o único comprável, dentro do orçamento do dia a dia.
Esses vinhos deveriam ser proibidos.
O que mistifica o vinho não são os especialistas, nem o conhecimento associado a ele, é o preço.  Vinho com qualidades básicas, leves,  frescos, fáceis, agradáveis,   devem estar à disposição de todos, com preço compatível e acessível, isso seria o verdadeiro sentido do que erroneamente chamam por ai,  de “desmistificar o vinho”, seria enfim a esperada popularização do vinho.

As pessoas precisam esmiuçar melhor um conceito, antes de sair repetindo frases, sem nem darem-se conta, do "universo" que elas carregam.
por Camila H. Coletti


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Enoabraços,

Camila H. Coletti

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