Tokaji, um brinde aos sentidos!


Numa deliciosa noite paulistana, tivemos a oportunidade de degustar tecnicamente, na ABS-SP,  4 vinhos da região de Tokaj, intitulados Tokaji, ou conhecidos também por Tokay na grafia inglesa.
Sob a orientação de Ben Howkins, diretor e co-fundador em parceria com High Johnson da  The Royal Tokaji  Wine Company, situada na região de Tokaj na Hungria, degustamos:
  • Royal Tokaji Furmint 2009
  • Royal Tokaji Áts Cuvée Late Harvest
  • Royal Tokaji Blue Label Aszú 5 Puttonyos
  • Royal Tokaji Gold Label Tokaji Aszú 6 Puttonyos
Veja as notas de degustação aqui: Vinhos da Hungria

Mas afinal para quem não é do mundo do vinho, Ou ainda não teve a oportunidade de degustá-lo, já deve estar pensando, o que tem de especial este vinho tokaji Aszú com este nome estranho, conhecido aqui também como tokay Aszú? E o que significa isto de puttonyos sempre associados no nome, 3, 4, 5 ou 6 puttonyos?
A resposta é simples, (por enquanto...rs..) Os vinhos Tokaji Aszú são vinhos doces, assim como o late harvest, porém com uvas que pelo menos em parte, sofreram o ataque do fungo botrytis cinérea, o que acaba por determinar características próprias,  dentre elas o fantástico equilíbrio entre a doçura e a acidez, e aromas específicos, que acontecem por um duelo entre a botrytis cinérea e a videira atacada, numa região onde a natureza por um capricho propiciou um terroir absolutamente único. E neste ponto a coisa deixa de ficar simples e passa a ser bastante complexa. Observem... Tokaj está situado nas montanhas Zemplén, na confluência dos rios Tisza e Bodrog, goza de longos verões ensolarados e outonos secos o que propicia as  névoas matinais, devido ao  encontro dos dois rios,  incentivando o desenvolvimento do botrytis cinérea, que nestas condições ideais, passa de uma praga que destruiria a produção de uvas com  a podridão cinzenta para um fungo benéfico, (mas como assim?) é isso mesmo, o fungo trava um duelo com a videira e nas condições climáticas e geográficas ideais, desenvolve a podridão nobre ao invés da podridão cinzenta e  acaba por nos proporcionar uma das melhores delicias do mundo do vinho, os vinhos botrytizados produzidos por uvas atacadas pela botrytis cinerea na podridão nobre. (Veja imagem abaixo)

As principais uvas de Tokaj

  • Furmint - aproximadamente 70% das plantações na região. Uma variedade com níveis muito elevados de ácido tartárico que é particularmente susceptível a Botrytis.

  • Harslevelu -. Cerca de 25% das plantações. Menos suscetível a Botrytis, mas rica em açúcares e aromas.

  • Muscat de Lunel -. Cerca de 5% das plantações. Uva de difícil de crescimento, mas importante tempero.
Na região específica da The Royal Tokaji  Wine Company, Os solos são em grande parte de barro, com um substrato vulcânico. As trepadeiras tem em torno de 20 anos de idade. Os rendimentos são mantidos em 10 hectolitros por hectare e uma videira rende aproximadamente um copo de vinho.

Entendendo o processo de vinificação do tokaji.

Estes grãos da uva contaminados em Tokaj, passam a se chamar aszú (  bago de uva contaminado pelo botrytis cinérea), as uvas não aszú são vinificadas em primeiro lugar para fazer um vinho base posteriormente os bagos aszú, ou seja os botrytizados, são colocados em um puttony e adicionados ao vinho base, puttony ou no plurak puttonyos, são cestos, ou melhor recipientes tipo uma tina funda de madeira (veja foto abaixo) com a capacidade de cerca de 20 litros que preenchidos com os bagos de uvas contaminados pelo botrytis, são levados à fermentação.



O número de puttonyos adicionados por barril dá o nível de puttonyos final do vinho, impresso no rótulo. A fermentação, que por sinal já é a segunda, ocorre em barris de 140 litros usados chamados de Göncis, que são feitos de carvalho húngaro, em caves e  os vinhos em Tokaj são classificados segundo o volume de aszú que é  colocado no vinho base, sendo isto salientado no rótulo no número de puttonyos.O número se puttonyos vai interferir diretamente na quantidade de açúcar do vinho e nas características organolépticas do mesmo.
Certo? Sim agora ficou mais claro, não é?
Veja tabelinha abaixo e perceba como a quantidade de puttonyos influiu no vinho.
• 3 Puttonyos : 60 - 90  gramas de açúcar por litro
• 4 Puttonyos : 90 - 120 gramas de açúcar por litro
• 5 Puttonyos : 120 - 150 gramas de açúcar por litro
• 6 Puttonyos : 150 - 180 gramas de açúcar por litro
Existindo mais duas classificações acima com uma quantia superior de aszú, mais de 6 puttonyos:
• Aszu Essencia : 180 - 450 gramas de açúcar por litro
• Essencia : 450 - 850  gramas de açúcar por litro
Mas como assim?  Como uma contaminação por fungo pode vir a ser benéfica para a videira e para a produção do vinho, e ainda gerar um vinho especial apreciado no mundo todo? 
E sabem do mais interessante? Isto tudo tem a ver com resveratrol no vinho branco... Resveratrol no vinho branco, como assim se resveratrol tem a ver com o vinho tinto?

Ah- hã...peguei você...rs... 

Vamos entender isto melhor?...
Se for curioso/a como eu , vai querer sim, então 
Leia AQUI: 


Fiz um pequeno resumo que irá ajudá-lo a entender isto, a principal fonte, foi a matéria de um dos meus professores o Doutor José Luiz Alvim Borges, atual presidente de ABS-SP  
(veja as referências de fonte no final da matéria.)


Agora que todos vocês já conhecem um pouco mais sobre os deliciosos tokajis, sugiro  colocar um na geladeira e degustá-lo em silencio absoluto, experimentando este capricho da natureza e agrado dos deuses conosco e assim brindar à vida! 



Enoabraços com desejos de que todos os leitores do blog tenham sempre por perto um tokaji para ser degustado quando bem entender, afinal para se abrir um tokaji, não é preciso nada, sem comida, nem harmonizações e nem cia, apenas a vontade de experimentar este momento de paz e de brinde aos sentidos.

3 comentários :

Danilo Marafon disse...

Boa Noite ! Estou com um Tokaji 3 Puttonyos 1999 ANDRASSY !

Gostaria de saber qual sobremesa para harmonizar com o vinho.

Muito Obrigado

Abs

Danilo Marafon

Camila H. Coletti disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Camila H. Coletti disse...

Oi Danilo, eu apostaria em uma "torta de maças" ou um "apfelstrudel". No geral sobremesas a base de frutas, e que não sejam doces demais, mas o tokaji sozinho, em meditação, como dizemos, é fantástico também.
Boa degustação!