Meu problema agora é selecionar por onde começar e por qual ângulo abordarei o tema, que foi polêmico em vários aspectos.
Como sabem, aconteceu ontem (25-abril-2014) em São Paulo, em evento durante o dia todo, “O Painel dos Espumantes do Hemisfério Sul”, promovido e organizado pelo Ibravin, Vinhos do Brasil, com o conceituado crítico inglês, Steven Spurrier, famoso pelo “Julgamento de Paris” (para os novatos no tema, sugiro que vejam o filme) que juntamente com um dos maiores críticos de vinhos brasileiros, Jorge Lucki, encabeçaram o que vinha sendo chamado, de “O Julgamento de São Paulo”, julgamento este, que na realidade não aconteceu.
O evento como podem observar no meu convite (mais abaixo), previa dois grupos de degustadores selecionados, era fechado e somente para convidados a não ser a palestra do Steven Spurrier, de encerramento, que foi aberta ao público.
Assim tínhamos duas equipes:
Equipe da sala pequena: a ser formada por degustadores técnicos, que organizado por Steven Spurrier formariam o “júri técnico”, davam suas impressões sobre os vinhos e selecionavam os seus 3 melhores em cada uma das duas baterias: método charmat e método tradicional.
Equipe da sala grande: Um grupo de degustadores VIP e convidados. Este grupo degustava as amostras, ao mesmo tempo que a outra sala. Estavam neste grupo, especialistas, produtores, enólogos, mídia e profissionais do vinho.
Começo por aqui levantando uma interrogação, que ficou em minha cabeça o tempo todo:
O projeto inicial era este mesmo, ou algo foi alterado no meio do caminho?
Os vinhos não seriam “julgados” aos moldes do “Julgamento em Paris” como foi amplamente divulgado na mídia? Isto foi um equívoco dos “divulgadores” que ninguém, da organização técnica assinalou, pedindo alteração de texto, ou realmente algo mudou nos momentos que antecederam o evento?
Por leituras e percepções diversas, dentre elas o fato de que os vinhos não foram degustados completamente às cegas, pois sabíamos o país produtor, algo me sugere, que a proposta era uma, tendo sido alterada no decorrer do projeto, o que não saliento de forma alguma como ruim, afinal, temos o direito de reavaliar pontos e retraçar metas. Isto faz parte de uma boa visão estratégica de objetivos, a questão maior é, e sempre será, determinar previamente metas claras.
Isto sim é bem mais complexo, trazendo o benefício de evitar expectativas que acabam sendo frustradas.
Isto sim é bem mais complexo, trazendo o benefício de evitar expectativas que acabam sendo frustradas.
Dentre as inúmeras questões geradas com o evento, me aterei a uma delas, pelo menos para abrir o painel de polêmicas desencadeadas pelo não acontecido“Julgamento de São Paulo”:
- Clareza de objetivos de um projeto.
Na minha modesta opinião, entendo que uma coisa é “divulgação” outra é análise de vinhos.
Para divulgação precisamos de todos os que escrevem ou estão ligados a mídias e podem produzir material de “divulgação” em diversos grupos e isto tem sua importância, quando falamos de um produto, que precisa ser conhecido e popularizado, no nosso caso o vinho. Concordo e assino em baixo.
Agora, em se tratando de análise de vinhos, então a conversa muda muito de figura, especialmente quando estamos falando de espumantes, um vinho bem mais complexo para ser avaliado, neste caso, estamos falando de “especialistas” pessoas selecionadas criteriosamente pela capacidade “técnica” em um tema, no caso, “avaliação degustativa técnica de um vinho” e neste caso, tenho que confessar que a escolha da equipe da sala pequena, que foi citada inclusive no meu convite, como “júri técnico” foi no mínimo, decepcionante.
Faltaram enólogos reconhecidos do Brasil e dos demais países da prova e faltaram especialistas reconhecidos de quem eu gostaria de ter ouvido suas impressões.
Eu entendo que se a proposta é que seja analisado tecnicamente um vinho, precisaremos de especialistas para tal. Se a ideia é promover um vinho, precisaremos de divulgadores do vinho. Simples assim.
Alguns do meio de “divulgadores” seja mídia, impressa ou não, tem as duas qualificações, outros não tem.
Então primeiro ponto que abordo é:
Clareza e foco na elaboração de um projeto.
Qual era a meta deste projeto?
Era divulgação ou era uma avaliação técnica ? - Entendo por avaliação técnica, uma observação criteriosa, com descoberta sensorial, de alguém treinado para tal, o mais fidedigna possível, sobre as qualidades dos vinhos das amostras e com um mínimo de interferência ou opinião pessoal, incluindo bate-papos durante o processo, afinal é uma avaliação técnica e não uma reunião de confraria.
É óbvio que algo como uma avaliação de fato, um julgamento gera consequente divulgação, mas gera riscos associados. Como tudo que é interessante, tem uma boa taxa de riscos. É um dos aspectos a serem ponderados previamente.
É óbvio que algo como uma avaliação de fato, um julgamento gera consequente divulgação, mas gera riscos associados. Como tudo que é interessante, tem uma boa taxa de riscos. É um dos aspectos a serem ponderados previamente.
Respondendo a estas questões, já se define uma série de pontos e nocauteia-se polêmicas negativas.
Para o que foi feito, com a equipe selecionada, que continuarei chamando de “sala pequena” e não de “júri técnico”, não deveria ter havido qualquer escolha de 3 melhores vinhos, apenas deveriam ter sido dadas as suas impressões, como uma amostragem dos degustadores presentes e traçado um perfil dos espumantes, dos países selecionados, embora eu ache que a bateria fosse pequena para isto.
Ou então, o mais lógico e respeitoso com todos os presentes, que TODOS de ambas as salas, sendo eles especializados de fato em vinhos ou enófilos produtores de “divulgação”, deveriam ter tido suas escolhas consideradas, no ranking dos vinhos. Aliás poderia ser uma sala só, não coube a separação, já que a proposta não era uma avaliação de verdade com pontuação, mais um motivo para eu pensar que algo foi alterado no projeto. Permaneceram as duas equipes, teria sido sobra do projeto original?
Ficou desconexo.
Ficou desconexo.
Simplesmente, porque a maior amostra percentualmente proporcional de especialistas de vinhos do país, estava na sala grande.
Gostei de ouvir as impressões do crítico e mundialmente reconhecido, o especialista Steven Spurrier, do Master of Wine Dirceu Viana, uma sumidade no tema vinhos, a quem respeito pelo conhecimento e pela “postura" como ser humano, do crítico chileno de vinhos, Patrício Tapia e achei interessante o grupo dos sommeliers estar representado na sala pequena, com o premiado Diego Arrebola, profissional dedicado ao exercício profissional e ao conhecimento.
Fiquei curiosa com o que teriam sido as impressões do crítico Jorge Lucki, um profundo conhecedor no tema, e lamentei por ele não ter participado das degustações e avaliações dos vinhos no evento.
Mas e os espumantes? Como disse, acabou não sendo uma prova com avaliações técnicas e nem ao menos uma avaliação dos melhores do grupo presente aproveitando-se a presença de tantos especialistas e profissionais da área no mesmo local. Foi perdida uma grande oportunidade, seria uma amostragem mais representativa.
Estamos no mesmo ponto em que estávamos, o espumante nacional é cativante, repleto de qualidades, mas os painéis eram pequenos e não representativos do que temos em termos de espumantes brasileiro.
Eu estive no sul recentemente, na vindima e me deslumbrei com as maravilhas que encontrei por lá, falo sobre os vinhos nacionais com orgulho de seu crescimento e lamento a empáfia, de alguns que só conseguem decorar e reproduzir lista de rótulos de regiões famosas do mundo todo, tentando conseguir status de especialista com isto.
Existem vinhos bons e vinhos fracos, em qualquer parte do mundo, quem esteve na expovinis sabe bem do que estou falando.
Somos novos como produtores de vinhos, mas somos bons alunos e temos grandes mestres. Ou será que achavam que não iríamos fazer descobertas em nosso terroir e aproveitar o que ele nos oferece?
Para isto existem pesquisas, pessoas capacitadas e produtores dedicados. Este é o caminho e por ele seguiremos, mas é preciso avaliar caminhos e estratégias seguramente. O que é bom terá todo o reconhecimento, no seu tempo certo, como aconteceu no “Julgamento de Paris”.
É isso, pra começar a deixá-los informados, sobre o que foi a semana mais quente do ano, em eventos de vinhos.
Uma dica, todos os 21 vinhos degustados e os resultados (das preferências dos consultados) estão disponíveis diretamente do evento, no meu novíssimo, porém inteirado Instagram, porque quem me segue fica sempre por dentro de tudo, o mais rápido possível, diretamente dos eventos.
Se ligue, faça o seu e cadastre o meu…
Foco minha gente, foco.
Enoabraços,
0 comentários :
Postar um comentário